Você cuida de todo mundo, mas ninguém cuida de você.
Mulheres dominadas pelo complexo materno podem assumir um papel de “mãe de todo mundo” caindo na superproteção, vivendo apenas para os outros e sacrificando sua própria identidade. Se identificou aí?
De repente você se deu conta de que assumiu o papel de mãezona do mundo. De repente percebeu que está exausta de provar que é independente e não precisa de ninguém.
Vou te contar um segredo. Esse sentimento tem nome e sobrenome: complexo materno.
O complexo materno é um dos conceitos centrais da Psicologia Analítica do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung.
Ele representa um conjunto de conteúdos psíquicos carregados de emoção, organizados em torno da imagem da mãe – seja a mãe biológica, a mãe simbólica ou o arquétipo materno.
Esse complexo pode afetar profundamente nossa personalidade e nosso comportamento, influenciando a maneira como a gente lida com relacionamentos, autonomia, emoções e até nossa própria identidade.
Jung definiu o complexo como um núcleo psíquico carregado de afetos e memórias inconscientes. O complexo materno surge da relação primária tanto de homens quanto de mulheres com a mãe e pode ter manifestações tanto positivas quanto negativas, dependendo da nossa experiência com essa figura.
Antes da gente se aprofundar nesse tema é importante entender que o complexo materno está ligado ao arquétipo da Grande Mãe.
A Grande Mãe é uma figura universal encontrada em diversas mitologias e religiões, representando a nutrição, o acolhimento, a proteção, mas também a destruição e o controle.
Na Mitologia Grega, Deméter, a deusa da colheita, é uma mãe extremamente devotada à filha Perséfone. Quando Hades a sequestra para o submundo, Deméter entra em profundo luto e abandona suas responsabilidades divinas, causando uma grande seca no mundo. Sua dor e apego são tão intensos que os deuses precisam intervir para negociar a volta de Perséfone.
Deméter representa a mãe que vive para os filhos e não suporta vê-los partir. Perséfone, por outro lado, representa o filho que precisa conquistar sua própria autonomia. A negação de Deméter em aceitar a separação da filha simboliza o apego excessivo e a dificuldade de permitir que os filhos sigam seu próprio caminho.
Já o conto de fadas Russo Vasalisa, conta a história de uma jovem que perde sua mãe biológica e recebe uma boneca mágica como presente antes de sua morte. Seu pai casa-se novamente, e a madrasta a obriga a fazer todas as tarefas da casa, explorando sua bondade e devoção ao trabalho. Em um dado momento da história, Vasilisa é enviada para encontrar a temida bruxa Baba Yaga, onde precisa aprender a confiar em sua intuição e encontrar sua independência.
A mãe biológica de Vasilisa representa a mãe servidora, que dá tudo de si, mas não ensina à filha como viver sem ela. Já A boneca mágica que Vasilisa recebe antes da morte da mãe simboliza um pedaço do materno que protege, mas também mantém a dependência.
A jornada de Vasilisa representa a necessidade de romper com essa dependência e desenvolver sua própria identidade. Aliás, se você ainda não viu, eu tenho um video especial sobre este conto sob a visão de Clarissa Pinkola Estes no livro Mulheres que correm com os lobos. Eu vou deixar o link na descrição do video para você.
Voltando ao complexo materno, se a mãe foi presente e acolhedora, o complexo materno é considerado positivo e pode fornecer segurança emocional e uma base sólida para o desenvolvimento da identidade. Quando a relação com a mãe foi equilibrada, o complexo materno contribui para um desenvolvimento saudável. Isso gera um adulto com segurança emocional e autoestima, capacidade de cuidar de si e dos outros de forma equilibrada, habilidade para estabelecer vínculos saudáveis, criatividade e conexão com a intuição.
Já se a mãe foi superprotetora, controladora, ausente ou rejeitadora, o complexo materno se torna negativo e pode gerar desafios psicológicos que acompanham a gente na vida adulta.
O complexo materno negativo pode gerar diferentes padrões de comportamento como o filhinho da mamãe ou o rebelde para os homens, e nas mulheres a rejeição do feminino e ou a mãe de todos.
E é justamente sobre este último que a gente vai falar por aqui hoje.
Mulheres dominadas pelo complexo materno podem assumir um papel de “mãe de todo mundo” caindo na superproteção, vivendo apenas para os outros e sacrificando sua própria identidade. Se identificou aí, mãezona?
Isso acontece quando a gente coloca as necessidades dos outros sempre acima das nossas. Por mais que esse comportamento possa parecer uma expressão de amor e cuidado, na verdade, muitas vezes esconde padrões inconscientes de autoanulação, dependência emocional e medo do abandono.
Mulheres com um complexo materno muito ativo tendem a assumir responsabilidades emocionais que não são delas, agindo como cuidadoras não apenas para os filhos (quando têm filhos), mas também para parceiros, amigos, colegas de trabalho e até desconhecidos.
Dentre as características mais marcantes desse perfil, a gente pode identificar que são mulheres que estão sempre disponíveis, colocando as necessidades dos outros antes das próprias ou ainda que se sentem culpadas quando dizem "não". Isso faz com que estas mulheres acreditem que seu valor vem do quanto conseguem ajudar ou servir, entrando em uma espiral sem fim de ajuda (mesmo quando não solicitada) em busca de afeto.
Estas mulheres costumam também ter muita dificuldade em pedir ajuda ou receber cuidados dos outros, gerando exaustão emocional e sensação de estarem sempre sobrecarregadas. Do outro lado da moeda, todas estas ações geram frustração porque elas acabam tendo a sensação de que ninguém reconhece ou retribui seu esforço. E pior, elas têm o receio de que, se pararem de cuidar, serão rejeitadas ou abandonadas.
E aí, bateu?
Por mais que nem sempre seja óbvio identificar estas características, a gente também pode reconhecer o complexo materno na vida adulta através dos seus impactos. Se não for trabalhado, o complexo materno pode gerar: relacionamentos difíceis, medo da intimidade, dependência, dificuldade em confiar, autossabotagem, baixa autoestima, Dificuldade em tomar decisões sem buscar aprovação, medo de independência e crescimento ou ainda a repetição de padrões familiares disfuncionais.
_Tá, Let. Gabaritei nesse teste aí. E faz o quê agora que entendi o que é o tal complexo materno?
A terapia junguiana pode ajudar a integrar o complexo materno de maneira saudável. Nas sessões, a gente explora a relação que você teve ou tem com sua mãe, revisitando memórias da infância e identificando padrões emocionais repetitivos ou sentimentos não resolvidos.
A gente também trabalha com sonhos, imagens simbólicas e imaginação ativa observando como o arquétipo materno aparece em mitos, filmes e histórias e criando uma nova imagem materna dentro de você. Aliás, um ponto fundamental aqui é compreender que nossa mãe não passa de uma projeção daquilo que reconhecemos como “mãe”. Quando olhamos para a mulher por trás da projeção, tudo muda.
E por ultimo, na terapia desenvolvemos a sua autonomia, estabelecendo limites saudáveis, assumindo a responsabilidade pela própria vida e trabalhando a confiança em si mesma.
Se você tiver interesse em ler sobre esse assunto, as minhas dicas são:
- O ensaio "Aspectos Psicológicos do Arquétipo Materno", dentro do livro “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo" do Jung, onde ele descreve o impacto da mãe tanto no desenvolvimento individual quanto na psique coletiva.
- "O Feminino nos Contos de Fadas" – de Marie-Louise Von Franz
- "A Grande Mãe" de Erich Neumann
- E Deusas: os mistérios do divino feminino, de Joseph Campbell, sobre o qual eu já falei por aqui.
Para concluir, o complexo materno pode ser tanto um suporte quanto um obstáculo no desenvolvimento pessoal. Seu impacto vai além da relação com a mãe biológica, influenciando a forma como a gente se vê e como a gente se relaciona com o mundo.
A terapia oferece um caminho para reconhecer e integrar esse complexo, permitindo que a gente desenvolva uma identidade própria, livre dos padrões inconscientes herdados.
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"O complexo materno negativo pode levar a mulher a ser incapaz de amar, pois seu amor está condicionado à servidão." – Carl Gustav Jung
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